Governo previa redução de até R$ 0,20 por litro com a nova mistura E30, mas levantamento da ANP mostrou diferença mínima nas bombas.
Quando o governo federal anunciou a adoção da gasolina E30, com 30% de etanol anidro na mistura, a expectativa era de alívio imediato no bolso dos motoristas. A projeção oficial falava em economia de até R$ 0,20 por litro nos postos de todo o país. Dois meses depois, no entanto, o resultado prático foi muito abaixo do esperado: segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), o preço médio caiu apenas R$ 0,02, passando de R$ 6,19 para R$ 6,17 entre agosto e setembro.
Por que o preço não caiu?
Especialistas apontam que houve excesso de otimismo nas projeções do Ministério de Minas e Energia. Embora a mistura de etanol seja positiva para a descarbonização da frota e para a redução da dependência da gasolina importada, fatores de mercado acabaram anulando o efeito esperado no preço final.
O Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP) destacou que o valor do etanol anidro subiu justamente no período em que a nova gasolina entrou em circulação. A lógica é simples: com a maior demanda pelo produto, o preço também se elevou.
Outro ponto de impacto está nos chamados custos ocultos: despesas com aluguel, IPTU, energia, folha de funcionários e logística variam de posto para posto, e acabam refletindo diretamente no valor praticado na bomba.
A composição do preço da gasolina (média nacional em setembro/2025)
Parcela da Petrobras: R$ 2,00 (32,4%)
Imposto estadual (ICMS): R$ 1,47 (23,8%)
Distribuição e revenda: R$ 1,04 (16,9%)
Etanol anidro: R$ 0,98 (15,9%)
Impostos federais: R$ 0,68 (11%)
Total: R$ 6,17
Motivações do governo
Apesar da frustração com o preço, o governo ressalta dois fatores centrais para a medida. O primeiro é ambiental, com a redução da emissão de poluentes pela adição de mais etanol. O segundo é financeiro, diminuindo a dependência da gasolina importada, já que o Brasil é autossuficiente na produção de cana-de-açúcar.
Segundo estimativas, a transição do E27 para o E30 evitará a importação de 760 milhões de litros de gasolina por ano e ampliará a produção de etanol em 1,5 bilhão de litros, movimentando cerca de R$ 9 bilhões no setor.
Próximos passos
A Lei do Combustível do Futuro (14.993/24) permite elevar o percentual de etanol para até 35% na mistura, desde que haja viabilidade técnica. Isso significa que o consumidor ainda pode ver novas mudanças nos próximos anos, mas sem garantia de impacto direto no preço das bombas.