Etanol reciclado da Ambipar, feito com balas, chocolates e panetones, foi testado pela Autoesporte e apresentou desempenho semelhante ao etanol comum. Combustível é sustentável, aprovado pela ANP e ainda ajuda a reduzir o desperdício da indústria alimentícia.
O futuro do combustível brasileiro pode estar nos restos de panetone. Literalmente. Um teste realizado pela Autoesporte revelou que um novo tipo de etanol, produzido a partir de resíduos da indústria alimentícia como balas, chocolates e sucos vencidos, tem desempenho praticamente igual ao etanol tradicional feito de cana-de-açúcar. Batizado de Ambiálcool, o combustível é desenvolvido pela Ambipar, empresa de gestão ambiental, e representa uma solução inovadora, sustentável e altamente produtiva.
Com o apoio de empresas como a Mondelēz, a Ambipar transforma toneladas de doces e alimentos fora do padrão de comercialização em combustível limpo. Segundo a companhia, é possível produzir cerca de 300 mil litros de etanol a cada 500 toneladas de resíduos, aproveitando insumos que antes iriam para o lixo.
A equipe de testes da Autoesporte rodou com o Ambiálcool em um Citroën Basalt 1.0 flex, em circuito urbano, rodoviário e em pista de provas. A comparação foi feita com o etanol tradicional dos postos e o resultado foi surpreendente:
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Consumo e desempenho ficaram tecnicamente empatados, com diferença inferior a 4% nas acelerações e velocidade final;
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O carro manteve o mesmo comportamento dinâmico, sem perda de torque ou resposta;
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A única diferença notada foi no cheiro, comparado ao álcool hospitalar, devido à alta pureza do novo combustível.
O etanol reciclado da Ambipar já é aprovado pela ANP, tem até 95% de pureza e é usado atualmente em uma frota de 22 veículos da empresa em Nova Odessa (SP). Embora ainda não esteja à venda para o público, seu custo de produção é semelhante ao etanol comum — cerca de R$ 4,27/litro — e a expectativa é que sua produção dobre até o fim do ano.
Além da eficiência técnica, o combustível traz grandes vantagens ambientais. Ele reaproveita o desperdício de uma indústria que movimentou R$ 1,3 trilhão no Brasil em 2024 e reduz a emissão de resíduos. Segundo especialistas, o Ambiálcool ainda pode gerar créditos de carbono no futuro, tornando-o uma opção economicamente viável.
A inovação também pode ter desdobramentos maiores. Há pesquisas na USP para o uso do etanol na geração de hidrogênio em carros elétricos, o que colocaria o combustível brasileiro no centro de uma nova revolução automotiva.
Embora ainda não exista previsão de comercialização, o Ambiálcool mostra que o Brasil pode liderar mais um ciclo no uso de etanol — desta vez, reaproveitando o que antes era considerado apenas lixo.