Garrafas pet e sandálias velhas se transformam em combustível improvisado; processo chama atenção de cientistas brasileiros
Em meio à escassez provocada pelo conflito na Faixa de Gaza, palestinos têm recorrido à criatividade e à necessidade para produzir combustível sintético usando plástico.
Vídeos que circulam no TikTok mostram refinarias improvisadas entre destroços, onde moradores queimam garrafas pet, sandálias e restos de plástico para obter gasolina e biodiesel, abastecendo carros, motos e geradores em meio ao bloqueio.
O método, embora arriscado, é resultado da falta de combustíveis na região. Os trabalhadores se expõem à fuligem e gases tóxicos sem equipamentos de segurança, utilizando tonéis aquecidos por carvão para extrair o chamado bio-óleo — líquido inflamável semelhante à gasolina.
A prática despertou o interesse de pesquisadores brasileiros que estudam alternativas sustentáveis semelhantes, mas com rigor técnico e propósito ambiental.
COMBUSTÍVEL DO LIXO
Pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) vêm desenvolvendo um processo semelhante para criar combustíveis sustentáveis a partir de resíduos plásticos e biomassa vegetal.
O projeto, conduzido no Laboratório de Tecnologia Ambiental (Labtam), busca transformar rebarbas de embalagens, pneus e restos da indústria de calçados em combustível capaz de ser usado em automóveis e aviões, após aprovação da Agência Nacional do Petróleo (ANP).
A reação química responsável por essa transformação é chamada de pirólise, um processo de degradação térmica feito entre 450 e 650 °C sob atmosfera inerte (sem oxigênio). Isso faz com que as cadeias de polímeros se quebrem e gerem hidrocarbonetos, que são a base da gasolina e do diesel.
“É um processo que permite obter um bio-óleo rico em compostos energéticos”, explica a engenheira química Edyjancleide Rodrigues, doutoranda da UFRN.
CIÊNCIA E SOBREVIVÊNCIA
Enquanto os palestinos improvisam o processo com meios rudimentares, os cientistas brasileiros buscam refinar a tecnologia para torná-la ambientalmente segura e economicamente viável.
A professora Renata Braga, que orienta o projeto, destaca que o objetivo não é substituir totalmente os combustíveis fósseis, mas reduzir o impacto ambiental e o desperdício de materiais plásticos.
“Não é uma substituição completa, mas uma forma de ter parte da gasolina e do diesel com origem renovável”, explica.
O professor José Luiz Alves complementa que o projeto ainda está em fase inicial, mas os resultados são promissores.
“Queremos dar uma nova rota a subprodutos que não são reciclados, criando uma economia circular”, afirma.
O FUTURO DO COMBUSTÍVEL
Com o Brasil entre os maiores produtores de plástico do mundo, gerando cerca de 7 milhões de toneladas por ano, o avanço de pesquisas como a da UFRN pode representar um marco para o futuro energético.
A aposta é que, num futuro próximo, parte da gasolina dos postos brasileiros possa conter origem renovável, resultado direto da ciência e da inovação nacional.